quinta-feira, 22 de outubro de 2009

As escutas e os apitos.



Foi decidido em última instância que as escutas telefónicas não poderiam ter sido usadas pela Liga de Clubes nos processos do “Apito Dourado”. Embora esta decisão seja respeitante ao presidente do Leiria, ela é válida para todos os casos similares, incluindo os que levaram á condenação de Pinto da Costa e do Boavista. Conforme se previa, vai começar agora a fase final que se inaugurou com as absolvições e arquivamentos dos julgamentos que o MP levou contra Pinto da Costa. A prazo vai traduzir-se num imbróglio difícil de resolver devido, principalmente, á descida do Boavista. Toda esta questão foi conduzida por um conjunto de pessoas identificado claramente com rivalidades clubistas e só parou quando chegou aos tribunais porque os juízes não podem julgar da mesma forma sob pena de serem penalizados nas suas carreiras. As decisões dos juízes dos tribunais são publicadas e a sua argumentação é conhecida do público. Se estas forem contra os factos ou contra a lei o nível seguinte invalida-a e o juiz tem uma classificação penalizadora. Está assim garantido que as decisões sejam mais conformes com a lei e os factos. Um juiz adepto do Benfica não condena Pinto da Costa só por ele ser líder do seu rival, ou por suposições ou acusações que não se apoiam em factos concretos. A Liga de Clubes sim! Não lhes acontece nada e os média do seu lado clubista apoiam-nos como se fossem os únicos a remar contra a maré. Uns heróis!
No que respeita aos adeptos dos clubes rivais, que se sentem traídos nas suas expectativas em relação a esta matéria, pois acalentaram sérias esperanças que Pinto da Costa fosse preso, o Porto rebaixado de divisão, o seu curriculum manchado, etc, sobram alguns argumentos – a que se agarram como lapas – e que quero tratar directamente neste artigo. A saber:

1º argumento: O facto é que as escutas existiram e que o facto de a justiça não deixar que elas sejam utilizadas não as erradica. Elas provam factos de corrupção.
Resposta: De todas as milhares de horas gravadas com os diversos arguidos, é claro que o MP escolheu aquelas que melhor serviam os seus interesse de acusação. Este facto é óbvio e de outra forma não se compreendia. Repetindo; de todas as gravações existentes, foram seleccionadas para dar apoio ás acusações todas aquelas que, na opinião do MP, mostravam indícios de corrupção. Este facto é importante pois apenas três acusações foram deduzidas. Todas as outras, de acordo com o MP, não mostravam quaisquer indícios de corrupção. Vamos lá então a ver quais as situações suspeitas suportadas pelas escutas:
No caso de Pinto da Costa foram três os casos escolhidos: o caso da “Fruta”, a recepção a um árbitro em casa e uma conversa com o presidente do Nacional em que Pinto da Costa disse ao seu homólogo que tendo ganho ao Benfica na jornada anterior lhe tinha feito um bom serviço pois agora recebia um Benfica mais fragilizado nesta jornada. Este caso é tão burlesco que foi logo abandonada, mesmo pelo próprio MP, que se terá dado conta do ridículo em que caia. O caso seguinte, o da “Fruta”, exigia muita interpretação ao leitor das escutas, pois nada é dito sobre compra de favores. Este caso foi a tribunal e também foi arrasado. O caso do árbitro em casa, em termos de escutas é ainda mais ridículo e por isso também sofreu igual destino. Mas não há duvida que um dirigente desportivo interagir com um árbitro é no mínimo irresponsável e por isso, receber um árbitro em casa é terrivelmente suspeito e poderá permanecer a sombra de uma dúvida sobre as razões de tal visita. Mas o que não se compreende é porque não se choca o mesmo “país” quando o director de futebol do Benfica (Veiga) almoça com elementos da equipa de arbitragem de um jogo decisivo e vergonhoso (Estoril - Benfica) e quando tal equipa favoreçeu seguidamente o Benfica. E porque é que quando instado a explicar o almoço, tanto o director do Benfica como o elemento da arbitragem tivessem afirmado que não tinham que dar explicações e que tal justificação tenha sido considerada suficiente pelos media. Num caso há uma visita mas não há acontecimentos de favorecimento posteriores. No segundo há a reunião e favorecimentos posteriores. E estes casos foram divulgados em lapsos de tempo coincidentes. Num caso há suspeição. No outro há factos. Mas pronto...!
E o facto é que apesar de o Benfica e Sporting não terem sido alvos de escutas – nem os seus dirigentes – existem dezenas de horas de gravações em que um ex-dirigente do Benfica conversa com dirigentes da Liga e Arbitragem sobre escolhas de árbitros para os jogos do Benfica. Amiúde desliga para conversar com o “Vieira” e nada mais se sabe porque o “Vieira” não estava a ser escutado. Depois volta e diz que o “Vieira” concorda ou não concorda e as coisas lá se fazem. Isto foi publicada nos jornais, mas não fizeram mossa nem ficaram na "lembrança" das pessoas. É inacreditável e pode ser confirmado por qualquer um. Estes casos, os mais explícitos das escutas, não provam nada, ao contrário dos outros onde se tem de recorrer á interpretação e imaginação e, ao que parece, provam tudo.

2º argumento: O Porto foi investigado e o Benfica e os outros não, o que mostra como o Porto deve ter, obviamente, feito algo de mal.
Resposta: O facto de só o Porto (dos três grandes) ter sido investigado é que deveria ser alvo de uma investigação. Toda a gente comparou o “Apito” ao processo de futebol que se passou em Itália. A diferença é que em Itália todos os clubes foram investigados e cinco dos maiores clubes foram castigados. Aqui, apenas um (dos grandes) foi investigado e nenhum dos outros o foi, o que mostra logo os declarados objectivos da investigação. Mas porque é que só o Porto foi investigado?
Durante seis anos passamos a ter uma equipa especial do MP dedicada a uma investigação específica. O único caso da nossa democracia em que tivemos outra foi para investigar as FP25. Só este caso mostra a paranóia e – mais assustador – o poder de quem decidiu avançar com isto. Os resultados foram nulos e neles foram gastos milhões de euros – que ainda continuam – em investigações á Hollywood. E ninguém teve que explicar porque é que foi gasto tanto dinheiro e recursos com uma investigação que não deu resultados. E se o facto de uma mulher repudiada ter “escrito” um livro que não escreveu, motivou o Procurador-Geral a andar com o livro debaixo do braço e ordenar a investigação, os documentos relativos ao “Apito Encarnado”, supostamente emanados da própria Judiciária, cheios de acusações especificas, não foram investigadas e foram considerados uma “invenção torpe”. Assim, sem mais nada! Infelizmente nem sequer existe o pudor de tentar esconder todas estas inclinações e pretensões, o que é explicado pelo facto de estes personagens saberem que têm o apoio de uma parte importante da “opinião pública”.

3º argumento: Toda a gente sabe de que forma o Porto e o Pinto da Costa dominaram o futebol português nas últimas três décadas. ..
Resposta: Na realidade, em Portugal, com o ambiente de suspeição e desculpabilização que existe, todos os adeptos sabem como os outros estão permanentemente a “roubar” e a dominar o sistema com a corrupção galopante dos árbitros e afins estruturas.
Se perguntar a alguém como foi o campeonato ganho pelo Benfica em 2004/5 todos os que não são benfiquistas vão afirmar que foi uma vergonha inominável, do princípio ao fim, e que os árbitros conduziram pomposamente o Benfica ao título numa passadeira vermelha. Se perguntar como foram os campeonatos do Sporting em 1999/2000 ou 2001/2002 os não sportinguistas falarão dos incessantes penaltis do Jardel no segundo e do Campo Maiorense do Bruno Paixão que roubou o Hexacampeonato ao Porto por apenas dois pontos. Se perguntar pelo campeonato ganho pelo Boavista, todos afirmarão que foi conquistado “á porrada” com a indecente conivência dos “tipos do apito”. Afinal quem é que ganhou bem? Claro que se perguntar pelos campeonatos ganhos pelo Porto, também nenhum foi ganho com justiça, bem pelo contrário. A diferença é que o Porto tem ganho muitos mais campeonatos e que os adeptos dos dois grandes concorrentes são mais do que os seus. Para além disso, eles constituem a maioria da população em Lisboa onde existe a concentração da maioria dos media portugueses. Por isso existe um estado de maior insatisfação e “conhecimento público” de factos graves que fizeram com que o Porto ganhasse.
Todos os adeptos, de todos os clubes, têm conhecimento de factos vergonhosos que provam que os adversários manipulam o sistema e compram árbitros, e por isso, ninguém ganha com justiça a não ser eles, e quando é sem justiça que ganham acaba por ser justo porque é uma apenas uma paga devido ao que já foi feito pelos outros.

Enfim! Um dia verá a luz do dia a verdade sobre este processo vergonhoso conduzido pelo presidente de um clube; com a colaboração de adeptos conhecidos desse mesmo clube; tendo por base uma “arrependida” mentirosa e intelectualmente incapaz de levar a cabo as mentiras que esses adeptos desse clube lhe pagaram para dizer e assim vingar-se do homem que lhe deu uma tampa; apoiados desavergonhadamente por um órgão de soberania que despendeu dinheiros públicos numa espécie de circo para gáudio popular; finalizado por uma liga de clubes e federação que levaram a cabo um processo ilegal (não sendo tribunais só podem elaborar processos disciplinares: não cumprindo as regras as suas decisões são nulas ou anuláveis) sem que ninguém – juristas incluídos – tivesse a coragem de denunciar esta situação; e finalmente, sustentados por uma multidão de adeptos que vendo a oportunidade de finalmente acabarem com o homem que tanto temem e com as vitórias que gera, entraram numa espécie de alucinação colectiva que se foi esvaindo até as decisões dos tribunais lhes mostrarem a loucura dos seus objectivos. A partir daí encerraram-se na “desculpa de que nada funciona neste país, muito menos a justiça”.
Tenho pena deles, mas mais pena de nós que temos que os aturar.

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