terça-feira, 26 de maio de 2009

Jogadores, clubes e outros ódios.

Existem jogadores que se tornam símbolos dos clubes em que jogam. Depois, por questões variadas, podem transferir-se para um clube rival. Os exemplos são muitos. E o que se espera é que o jogador, jogue onde jogar, seja sempre profissional e dê tudo pelo clube que lhe paga. Mas o que não se espera é que o jogador esqueça o facto de já ter sido o símbolo de um clube, que agora é o novo rival, mas que já foi a sua casa.
E existem muitos jogadores que sabem gerir bem esta situação. Drulovic foi um símbolo portista e acabou a jogar no Benfica. Embora dando o seu melhor ao novo clube, Drulovic nunca ostracizou a casa onde cresceu e era admirado. Nos jogos no Dragão, mesmo vestindo a camisola encarnada, era aplaudido, porque as pessoas não o tinham esquecido. Sabiam que ele estava ali a trabalhar e que o trabalho tem dignidade. Mas continuava a ser a mesma pessoa. E o facto é que, acabada a carreira, voltou ao Porto para aí trabalhar. Mas existem outros que não sabem ou não querem lidar da mesma forma com a nova situação. E os resultados são, no mínimo, grotescos. Veja-se o caso do Postiga, Rui Jorge ou do Derlei, agora no Sporting! E o caso do Jardel!
E porque é que estas coisas acontecem? Na minha opinião porque os jogadores confundem o clube com as suas direcções, ou com determinadas personagens que lá trabalham. Para eles, o clube é o Presidente, o Administrador para o futebol, o treinador, etc. Não compreendem que o clube são os adeptos. Os outros são a estrutura fisica o clube, mas sem adeptos um clube esvai-se e desaparece. Os adeptos são a sua alma!
Quando os jogadores se pegam de razões com uma destas personagens, seja porque não jogam muitas vezes, ou porque não lhes renovaram com as condições pretendidas, ou porque disserem isto, ou aquilo, ou uma outra infinidade de razões, legitimas ou não, tomam-se de rancores e, caso vão para um rival, destilam estes maus sentimentos com ingratidão. Porque eles não entendem - muitas vezes fica-se com a sensação de que a cabeça, para estes jogadores, só serve para cabecear a bola - que os adeptos nada têm a ver com estes sórdidos pormenores e que sendo devotos, permanecem devotos, mesmo depois das transferências.
Derlei é um bom caso. Para nós, portistas, ele é o simbolo de Sevilha. É um jogador que passeou a sua garra e qualidade pelos relvados portugueses e europeus ao serviço do Porto e com ele tudo ganhou. Os adeptos adoravam-no! E um dia as relações ficam tensas. Já nem me lembro bem porquê? Talvez porque a equipa não se portava sem Mourinho, da mesma forma que com Mourinho. O ano não estava a correr bem. Um grupo de fanáticos portistas, insultaram-no e disseram-lhe umas coisas feias. E a direcção não lhe deve ter dado o que ele pretendia. E lá vai ele para a Russia, previsivelmente acabar a carreira a ganhar uma boa maquia. Quando volta, para jogar no Benfica, para nós, portistas, continuava a ser o Derlei, o Ninga. O nosso Ninga! Ninguém esperava que ele voltasse com tanto desdém pela casa que o formou e lhe deu nome, e que tivesse tanta necessidade de o ostentar. Porque os milhões de portistas não são a meia duzia que o insultou, nem a direcção que o vendeu. E estes, que não são tidos nem achados, são a base, o clube. E eles - nós - não merecemos esta atitude.
A nossa vida é uma continuidade. Somos agora o que somos por causa do que temos sido e feito. Derlei, agora, é um simulacro daquilo que era. Continua a dar tudo por tudo. A ter qualidade e garra. Continuam a chamar-lhe Ninga, mas já não é o mesmo porque renegou as origens. Porque confundiu as coisas e não teve respeito pelo clube que o idolatrou. Quem renega os seus não pode ser boa pessoa. Neste caso, com a palavra "pessoa" quero apenas referir-me apenas ao jogador e não ao homem, que não conheço.
O mesmo digo do Postiga, que passeia o seu desdém por quem, na sua opinião não lhe deu as oportunidades que ele pensava merecer. E mesmo o Jardel, que se portou mal com o Porto, ele que sem o Porto, nada tinha sido. E fê-lo por uma questão de vaidades, de cíumes, e outras mesquinhices. Na ultima vez que cá veio, acabou aplaudido por todo o estadio em pé. Verteu umas lágrimas, mas lá no fundo penso que ele considera aquela atitude a obrigação dos adeptos. Coitado! Mas enfim...
Os adeptos é que não têm nada com isso e não entendem estas atitudes. Até podem compreender que eles tenham ficado chateados com fulano, ou cicrano e beltrano, mas não com o clube; com eles.
Finalmente quero deixar esta curiosidade: os jogadores que acabei de falar neste exemplo, jogam ou jogaram todos no Sporting depois de terem jogado no Porto. Por alguma razão, algo naquela casa faz com que os antigos símbolos portistas renegem as sua origens. Embora seja visto como um clube "amigo" eu, pessoalmente, penso que o ódio ao Porto está lá muito mais presente do que no Benfica. Ainda me lembro do Rui Jorge, quando foi transferido para o Sporting, no ano em que o Porto conquistou o Penta. Com o empate do Boavista, o Porto entrou para jogar em Alvalade antecipadamente penta campeão, e fez a festa no relvado, antes de o jogo começar. Entrevistado, Rui Jorge, agora de verde e branco, fez muitos elogios ao Porto e confessou estar muito triste por não estar a comemorar o título com a camisola azul e branca. Dois anos mais tarde protagonizava o episódio da camisola rasgada com Mourinho.
Mário Borges, 26 de Maio de 2009

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